Por Genivaldo Araújo, CEO da 3CON Consultoria de TI
Essa mais nova disrupção do sistema financeiro exigirá dos participantes mente aberta, melhores e mais robustas tecnologias, parâmetros mais rígidos de segurança e muito cuidado com suas bases de dados
Independentemente da pandemia e de toda instabilidade que o Covid19 trouxe ao mercado, o Banco Central do Brasil manteve firme sua agenda de reformas — a chamada Agenda BC# — e está caminhando a passos firmes para implantar o Open Banking no país. Dividido em 04 fases, o projeto terá início em 30 de novembro próximo e será finalizado em outubro de 2021, quando estará em pleno funcionamento. O Open Banking trará inovações que beneficiarão tanto os consumidores como o mercado como um todo, mas é importante ficar atento para as exigências técnicas e tecnológicas desse novo modelo.
Pesquisa Ipsos feita com 15.000 entrevistados em 15 países revelou as principais preocupações dos usuários em relação ao Open Banking. Entre elas estão: achar que haverá falta de proteção aos seus dados pessoais; o risco de que seus dados financeiros sejam obtidos por partes mal intencionadas; e não saber quem, afinal, guardará seus dados financeiros.
Como se vê, garantias de segurança e maiores esclarecimentos à população serão primordiais para uma alta adesão e sucesso do projeto. Fora isso, para as próprias instituições financeiras serão necessários critérios rígidos na escolha de suas plataformas tecnológicas, regras claras e treinamentos de segurança para os funcionários, afinal, haverá mais do que nunca um acesso grande aos seus sistemas e banco de dados através das APIs abertas.
De acordo com o João André Pereira, chefe do departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BC, o Open Banking é uma plataforma de compartilhamento de informações e serviços entre instituições financeiras de forma organizada, sistematizada e segura. Ele explica que o cliente assumirá papel central nesse novo modelo, pois lhe dará o poder de usar partes dos serviços de cada instituição conforme sua conveniência e assim criar ‘seu próprio banco’.
Ainda segundo o BC, o Open Banking deve ajudar a baratear os juros e serviços bancários, tornar o sistema financeiro mais competitivo, melhorar a prestação de serviços ao consumidor, possibilitar a criação de novos modelos de negócios etc. Ele revolucionará a maneira como nos relacionamos com o dinheiro e com as instituições, e já nasce em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), porque parte do pressuposto que a informação pertence ao cliente e não às empresas.
Um exemplo prático da aplicação do conceito de Open Banking é que os usuários poderão ter suas contas-corrente centralizadas e operadas através de um único aplicativo mobile, e não necessariamente através do app do seu banco. Essa integração poderá acontecer também com o ecommerce e plataformas de marketplaces. As possibilidades que surgem a partir da regulação e implantação do Open Banking são enormes.
O primeiro desafio a ser enfrentado pelo Open Banking é a forma como será feita essa comunicação e compartilhamento de dados. O BC e o mercado já têm a resposta. Basicamente, isso será resolvido com a padronização das API – Application Programming Interface – ou interface de programação de aplicativos.
APIs são minissistemas — ou conectores — que acessam programas maiores. Esses conectores ocuparão papel fundamental na arquitetura tecnológica do Open Banking já que todas as instituições financeiras que decidirem participar terão que compartilhar informações. Ou seja, terão que permitir que outras empresas acessem suas bases de dados, seus sistemas para coletar informações dos clientes — algo impensado para o mercado financeiro até alguns anos atrás. Mas isso – o uso das APIs abertas — tornará os bancos dependentes da segurança dos provedores terceirizados (Third Party Providers -TPPs) que usarão essas APIs.
Isso demandará novos e mais robustos requisitos de segurança, uma gestão mais eficiente de base de dados, gerenciamento efetivo de desempenho de aplicativos, além de satisfazer os requisitos do BC e rigorosos SLAs.
A segurança, bem como a gestão da plataforma tecnológica por trás do Open Banking são temas cruciais e que precisam ser olhado nos detalhes. As vantagens mercadológicas serão incríveis, mas o desafio de CIOs, CEOs e CISOs serão igualmente grandes, desde a conscientização de seus funcionários sobre os riscos até avaliações de impacto em caso de um possível ataque.
Relatório da Accenture chamado “The Brave New World of Open Banking” (O admirável mundo novo do Open Banking) concluiu que os vencedores serão os bancos que adotarem o Open Banking e modernizarem seu modelo de negócios, abrindo-o para terceiros, e aceitar que o jardim murado através do qual os bancos desfrutavam de posição privilegiada na economia é coisa do passado. Mas devo acrescentar que os vencedores serão aqueles que fizerem também as escolhas por plataformas tecnológicas consolidadas, aqueles que se dispuserem a conhecer todas as possíveis brechas de segurança e repará-las e os que adicionarem proteções e controle às suas bases de dados, onde se encontram seus ativos mais importantes.
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